Caso Moïse: júri popular condena 2 réus a 19 e 23 anos de prisão pela morte de congolês
14/03/2025
(Foto: Reprodução) Fábio Pirineus da Silva e Aleson Cristiano de Oliveira Fonseca foram condenados por homicídio triplamente qualificado — por motivo torpe, meio cruel e sem chance de defesa da vítima. Um terceiro réu ainda será julgado. Vídeo mostra acusado de morte de Moïse tirando foto com vítima imobilizada
O 1º Tribunal do Júri condenou, nesta sexta-feira (14), Fábio Pirineus da Silva e Aleson Cristiano de Oliveira Fonseca pela morte de Moïse Kabagambe. Os dois foram sentenciados por homicídio triplamente qualificado — por motivo torpe, meio cruel e sem chance de defesa da vítima.
Aleson recebeu uma pena de 23 anos, 7 meses e 10 dias de reclusão, já Fábio foi sentenciado a 19 anos, seis meses e dois dias. Ambos devem cumprir a pena em regime fechado.
Julgamento do caso Moise
Henrique Coelho /TV Globo
O congolês foi agredido até a morte, em 2022, no quiosque em que trabalhava na Barra da Tijuca. Ele levou cerca de 40 pauladas, segundo as investigações, porque cobrava o pagamento de diárias atrasadas.
A mãe e os irmãos de Moïse acompanharam o julgamento. Eles são refugiados políticos do Congo e estão no Brasil há quase 11 anos. Em um determinado momento, a família ficou abalada com a exibição de imagens da agressão.
Um vídeo com imagens das agressões, exibido durante a sessão, deixou a família abalada (veja acima).
Ao ler a sentença, após dois dias de julgamento, o juiz Thiago Portes, destacou o fato de Moïse ter sido morto no país onde ele e sua família buscaram apoio e abrigo após fugir da guerra em seu país, a República Democrática do Congo.
“A morte da vítima gerou comprovados abalos de ordem psicológica e psíquica nos familiares da vítima, notadamente a genitora e o irmão, oriundos da República Democrática do Congo, que se evadiram da guerra, dos conflitos armados existentes em seu país, com a legítima expectativa de encontrar uma vida minimamente digna no Brasil. Fugiram da guerra, mas encontraram em um país que se diz acolhedor a crueldade humana e mundana, que ceifou a vida de seu filho e irmão", afirmou.
Família de Moïse no julgamento
Henrique Coelho /TV Globo
Reações às sentenças
A família de Moïse se mostrou feliz com as sentenças.
"Meu coração está tremendo, mas tremendo de feliz. Estou muito feliz com o dia de hoje, a justiça de hoje", afirmou Yvone, a mãe de Moïse, após a leitura das penas.
"Tivemos uma resposta que esperamos há dois anos, que Moïse não era uma bêbado, que Moïse não era um drogado", afirmou Maurice, irmão da vítima. "Esse já é um resultado que mostra tudo. O que fizeram com um trabalhador da África, do Congo, para buscar uma vida melhor para o Brasil e foi morto como uma cobra. Um ser humano. Isso não pode acontecer, esse tipo de pessoa não pode viver em sociedade".
Yvone e Maurice, familiares de Moise
Henrique/ TV Globo
O promotor do caso, Bruno Bezerra, se mostrou satisfeito com a decisão. "O resultado é o tipo de sociedade que nós queremos para o nosso estado, para o Brasil, onde questões como essa não precisam se resolver com brutalidade. A vida de Moïse foi perdida de forma banal, sem qualquer necessidade".
A defesa dos réus não quis dar declarações à imprensa, apenas confirmou que irá recorrer a decisão.
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No vídeo apresentado pela promotora Rita Madeira, do Grupo de Atuação Especializada em Júri (Gaejuri), do Ministério Público do Rio, chamou a atenção uma foto posada com Moïse imobilizado e sem reações, no chão.
Moïse Kabamgabe
Reprodução
No vídeo, Brendon Alexander – que não foi julgado nesta sexta-feira mas também é réu em outro processo – está com as costas no chão e com Moïse preso entre suas pernas, totalmente imobilizado e aparentando estar já desacordado.
Fábio Pirineus se aproxima e usa um celular para tirar uma foto. Quando o flash dispara, Brendon está com um sinal de hang loose.
Brendon, o terceiro réu, ainda aguarda a análise de um recurso pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ).
➡️O hang loose 🤙🏻é um símbolo feito com a mão, com o dedão e o dedo mindinho eretos e os outros fechados. É um sinal muito usado como uma saudação positiva por surfistas, por exemplo.
Momento em que flash de câmera dispara e Brendon Alexaandro faz um 'hang loose' posando para a foto de Fábio Pirineus
Reprodução